Uma onda de calor excepcional atinge principalmente as regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, com previsão de persistir até sexta-feira, 17 de novembro, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão federal vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária.
No boletim mais recente, o Inmet identificou 2.707 municípios afetados pela onda de calor, que é caracterizada por temperaturas pelo menos 5ºC acima da média esperada para o mês, ao longo de cinco dias consecutivos. Marcas superiores a 40ºC foram registradas em diversas localidades, incluindo o Rio de Janeiro, Cuiabá, Corumbá, Água Clara, São Romão, Coronel Pacheco, Seropédica e Ibotirama.
A terça-feira (14) foi marcada por recordes, com Goiânia atingindo 39,2ºC, a tarde mais quente de sua história para o mês de novembro. Em Campos do Jordão, São Paulo, os termômetros registraram 31ºC, superando a marca de 1961. O Distrito Federal também alcançou um recorde, com 37,3ºC, representando o dia mais quente do ano.
O Inmet prevê que os estados afetados pela onda de calor experimentarão chuvas intensas na próxima semana, marcando o fim desse período de calor extremo. Na Região Sudeste, a queda da temperatura na sexta-feira (17) será acompanhada de precipitações.
Para o período de 21 a 29 de novembro, o Inmet projeta grandes volumes de chuva, possivelmente ultrapassando 40 milímetros, em Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Nas demais áreas, não está descartada a possibilidade de pancadas de chuva.
Os cientistas relacionam essa onda de calor ao fenômeno El Niño, caracterizado pelo enfraquecimento dos ventos alísios e pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico. Marcos Freitas, geógrafo e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que o El Niño atual é considerado forte, com anomalia de temperatura chegando a quase 2ºC na Zona 3.4. Esse fenômeno influencia a circulação de massas de ar, bloqueando a entrada de umidade no Sudeste e parte do Centro-Oeste.
A previsão é de que o El Niño continue exercendo sua influência, resultando em um verão persistente e quente. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) estima que os efeitos do fenômeno serão sentidos pelo menos até abril do próximo ano. Este padrão mais intenso do El Niño está associado ao aquecimento global, de acordo com os especialistas.
Saulo Rodrigues Pereira Filho, coordenador da Rede Clima da Universidade de Brasília (UnB), reforça a possibilidade de novas ondas de calor durante o verão, alertando para os impactos do El Niño, não apenas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, mas também provocando seca no Norte e Nordeste, além de chuvas torrenciais e ciclones extratropicais no Sul do país.